Se a cultura efetivamente atua como causa e não apenas conseqüência de quem somos, todas as nossas observações são de uma perspectiva construída. Nossos paradigmas são contextuais.
E não são?
Antes do século XVIII, nós víamos o mundo sob o prisma do uniformitarismo.As relações sociais baseavam-se na "hereditariedade" do poder, as classes sociais eram estáticas, e as ciências - desde a teologia até a geologia - pregavam que o universo era também estático. As transformações eram tidas como ocasiões excepcionais dentro desta estabilidade.
Então veio a revolução burguesa, decorrente de um processo dialético instaurado progressivamente, e as relações sociais passaram a ser vistas de outro modo. A realidade estava em constante transformação. As mudanças são agora a regra, e não a exceção. As classes sociais nada mais tinham de estáticas, mas dependiam do próprio esforço. Era a idéia de meritocracia que se instalava em nossa sociedade.
A teologia passou a interpretar a bíblia numa "dialética diluviana", e apenas 70 anos depois da Revolução Francesa, quando a mentalidade do feudalismo estava definitivamente morta e enterrada, Darwin tem sua famosa idéia e publica A Origem das Espécies.Logo em seguida, no início do século XX, surge Einsten com sua Teoria da Relatividade, que originou a idéia de expansão do universo e a teoria do Big Bang.
Será coincidência que as idéias sociais e as idéias científicas andem tão de mãos dadas?
Podemos, então, pensar na questão do método, que a priori assegura a repetibilidade e confiança nas premissas científicas.
Entretanto, para usar como exemplo, o método atual é proveniente da filosofia de Descartes. Mas se a cultura é causa do que somos, Descartes também estava sob a influência de um contexto. E é verdade: seus princípios condizem com a idéia vigente em sua época de que as partes compunham o todo, também reflexo de um contexto social que passou a privilegiar o indivíduo e não a massa.
Há ainda a possível defesa de que o pensamento científico possui uma linearidade. Relações de causa e efeito, interações.
Mas a maneira de estabelecermos essas relações entre variáveis só levam a este determinado resultado porque utilizamos este determinado método. Com outro, o resultado muito provavelmente seria diferente.
Um bom exemplo para isso é a consciência. Suponhamos que não soubéssemos que ela existe, não a percebêssemos.
Um cientista resolve estudar o cérebro, e verifica sua morfologia, células, átomos. Ele vai concluir muitas coisas destas observações, mas com certeza ele não descobriria a existência da consciência.
A consciência é uma característica que depende da união de todas as variáveis. Ela emerge do conjunto, e não pode ser observada em cada parte deste. Um cartesianista separa estas variáveis, de modo que não visualiza uma propriedade emergente.
Então podemos afirmar, seguindo o exemplo acima, que a conclusão (hipotética) da inexistência da consciência é fruto de um contexto. Afinal, o resultado obtido faz parte e não pode ser vendido separadamente do método utilizado para alcançá-lo.
Para além das verdades científicas, o próprio processo de desconstrução cultural torna-se igualmente sem sentido para além do circunstancial. Trata-se de desconstruir algo para reconstruí-lo sob as perspectivas de um novo contexto. Nosso contexto.
Com essas desconstruções e reconstruções, sempre contextualizadas a partir de uma perspectiva própria, será que criamos paradigmas falsos? Ou será que os paradigmas anteriores é que eram falsos, e se chocam com a realidade?
Na verdade, sob esta lógica, nos cercamos de uma realidade viciada criada por nós mesmos. Acabaram-se, assim, os paradigmas minimamente sustentáveis. Como já disse Pascoal, estamos caminhando sobre degraus que continuamente se esvanecem. Correndo para pisar no próximo degrau e não cairmos num abismo onde não há nada para nos sustentar.E
ntretanto, enquanto escrevo isso, estou sendo influenciada pelo meu contexto. Vivemos num período pós-modernista, em que o relativismo domina sob todas as formas possíveis. Uau, que idéia original e inovadora é escrever algo que relativiza todo o conhecimento dentro de uma circunstância pós-moderna!
E, ao mesmo tempo, que tiro no próprio pé! Se as idéias são fruto do contexto – inclusive as minhas – então elas não podem ser verdadeiras para além deste momento.
Sim, você que está lendo também.
Ahnn, você discorda?
E não são?
Antes do século XVIII, nós víamos o mundo sob o prisma do uniformitarismo.As relações sociais baseavam-se na "hereditariedade" do poder, as classes sociais eram estáticas, e as ciências - desde a teologia até a geologia - pregavam que o universo era também estático. As transformações eram tidas como ocasiões excepcionais dentro desta estabilidade.
Então veio a revolução burguesa, decorrente de um processo dialético instaurado progressivamente, e as relações sociais passaram a ser vistas de outro modo. A realidade estava em constante transformação. As mudanças são agora a regra, e não a exceção. As classes sociais nada mais tinham de estáticas, mas dependiam do próprio esforço. Era a idéia de meritocracia que se instalava em nossa sociedade.
A teologia passou a interpretar a bíblia numa "dialética diluviana", e apenas 70 anos depois da Revolução Francesa, quando a mentalidade do feudalismo estava definitivamente morta e enterrada, Darwin tem sua famosa idéia e publica A Origem das Espécies.Logo em seguida, no início do século XX, surge Einsten com sua Teoria da Relatividade, que originou a idéia de expansão do universo e a teoria do Big Bang.
Será coincidência que as idéias sociais e as idéias científicas andem tão de mãos dadas?
Podemos, então, pensar na questão do método, que a priori assegura a repetibilidade e confiança nas premissas científicas.
Entretanto, para usar como exemplo, o método atual é proveniente da filosofia de Descartes. Mas se a cultura é causa do que somos, Descartes também estava sob a influência de um contexto. E é verdade: seus princípios condizem com a idéia vigente em sua época de que as partes compunham o todo, também reflexo de um contexto social que passou a privilegiar o indivíduo e não a massa.
Há ainda a possível defesa de que o pensamento científico possui uma linearidade. Relações de causa e efeito, interações.
Mas a maneira de estabelecermos essas relações entre variáveis só levam a este determinado resultado porque utilizamos este determinado método. Com outro, o resultado muito provavelmente seria diferente.
Um bom exemplo para isso é a consciência. Suponhamos que não soubéssemos que ela existe, não a percebêssemos.
Um cientista resolve estudar o cérebro, e verifica sua morfologia, células, átomos. Ele vai concluir muitas coisas destas observações, mas com certeza ele não descobriria a existência da consciência.
A consciência é uma característica que depende da união de todas as variáveis. Ela emerge do conjunto, e não pode ser observada em cada parte deste. Um cartesianista separa estas variáveis, de modo que não visualiza uma propriedade emergente.
Então podemos afirmar, seguindo o exemplo acima, que a conclusão (hipotética) da inexistência da consciência é fruto de um contexto. Afinal, o resultado obtido faz parte e não pode ser vendido separadamente do método utilizado para alcançá-lo.
Para além das verdades científicas, o próprio processo de desconstrução cultural torna-se igualmente sem sentido para além do circunstancial. Trata-se de desconstruir algo para reconstruí-lo sob as perspectivas de um novo contexto. Nosso contexto.
Com essas desconstruções e reconstruções, sempre contextualizadas a partir de uma perspectiva própria, será que criamos paradigmas falsos? Ou será que os paradigmas anteriores é que eram falsos, e se chocam com a realidade?
Na verdade, sob esta lógica, nos cercamos de uma realidade viciada criada por nós mesmos. Acabaram-se, assim, os paradigmas minimamente sustentáveis. Como já disse Pascoal, estamos caminhando sobre degraus que continuamente se esvanecem. Correndo para pisar no próximo degrau e não cairmos num abismo onde não há nada para nos sustentar.E
ntretanto, enquanto escrevo isso, estou sendo influenciada pelo meu contexto. Vivemos num período pós-modernista, em que o relativismo domina sob todas as formas possíveis. Uau, que idéia original e inovadora é escrever algo que relativiza todo o conhecimento dentro de uma circunstância pós-moderna!
E, ao mesmo tempo, que tiro no próprio pé! Se as idéias são fruto do contexto – inclusive as minhas – então elas não podem ser verdadeiras para além deste momento.
Sim, você que está lendo também.
Ahnn, você discorda?