sábado, 15 de maio de 2010

O Imbecil Pós-Moderno


A pós-modernidade é uma corrente de pensamento muito popular no meio acadêmico atual que defende a tese de que a verdade não existe, sendo apenas fruto de um contexto histórico e válido apenas para este contexto.

Esse pensamento é muito comum entre os pseudo-intelectuais de orkut, que adoram usar esse argumento para dizer que cada contexto tem sua verdade e, portanto, não podem ser julgados ou comparados.

Ex: na HQE (2) abriram um tópico afirmando que sociedades matriarcais eram atrasadas em relação as patriarcais e um(a) imbecil pós-moderno respondeu:

“Nós só sentiríamos falta de anestesia, luz elétrica e companhia porque já as conhecemos e criamos necessidades. Ou você acha mesmo que nossas avós foram infelizes sem celular? Como podemos sentir falta e necessidade do que não conhecemos? As pessoas já viviam e existiam antes de todas as tecnologias, e um dia a máxima tecnologia já foi uma pedra polida. Não que eles sejam pré históricos, mas eles tem sua própria organização e conhecimentos. Não dá pra medir uma sociedade pela outra já que cada uma se baseia em códigos de valores diferentes.” – Isabelle

Atenção ao sublinhado: o imbecil pós-moderno nada mais faz do que defender o duplo critério. O que o imbecil pós-moderno tenta é evitar o confronto de idéias, o imbecil pós-moderno teme a dialética, travestindo-se de defensor da “igualdade” e acusando o interlocutor de preconceituoso.

Ex: ”Você está fazendo um julgamento de valores. E o faz enquanto homenzinho ocidental, cheio de preconceitos e de egocentrismo, tipicamente ocidentais: o homem branco, filho feito a imagem e semelhança de Deus e dominador da natureza!” - Lilian

O imbecil pós-moderno não aceita a idéia de que exista o avançado e o atrasado, o melhor e o pior, certo e errado, porque na cabeça dele:


1) Atrasado é sinônimo de inferior.


Vamos pegar a frase da Isabelle “Nós só sentimos falta de anestesia porque as conhecemos”. Para começar não precisamos conhecer anestesia para sentirmos falta dela, isso porque quando temos dor sentimos falta de algo para aliviá-la, ou seja, há uma necessidade a ser suprida, apenas não há os meios adequados para saná-la, tanto que antes da invenção da anestesia a dor era aliviada na base da cachaça.


Oras, tudo que o ser humano faz visa em essência duas coisas: busca pelo bem-estar e fuga do sofrimento. É da natureza humana, é instintivo. Não há nada relativo nisso.

Suponhamos que um africano precise extrair um dente, ele vai no curandeiro de sua tribo e o cara arranca o dente sem anestesia. Agora vamos supor que o africano tenha outra dor de dente, mas desta vez haja um médico da ONU no local e lhe dê anestesia para tirar o dente. Alguém aqui acredita que o africano, depois te ter extraído o dente com anestesia, vai querer voltar a extrair dente com o curandeiro próxima vez que tiver uma dor de dente?

Resumo: a tribo africana é SIM atrasada em relação aos ocidentais em relação a métodos de aliviar dor e sofrimento. A tribo africana é inferior ao ocidente por causa disso? Não.

Se A é atrasado não é porque B é inferior, mas sim porque B não teve as mesmas condições e oportunidades de se desenvolver como A. Se Joãozinho está atrasado na escola, é repetente e tira notas baixas, enquanto Pedrinho tira notas boas não é porque Joãozinho é inferior a Pedrinho. Joãozinho pode não ter tido as mesmas chances de Pedrinho. Joãozinho pode vir de uma família pobre, seus pais podem estar no meio de um divórcio turbulento, etc.

Isso explica, mas não justifica. Nada muda o fato de que Joãozinho tira notas boas e Pedrinho notas ruins, e portanto é melhor aluno, que extrair dente com anestesia é melhor do que extrair sem anestesia.

Esse é o 1º erro do imbecil pós-moderno, achar que quem defende que A é melhor que B considera B inferior e o tacha de preconceituoso, o que nos leva ao item 2.



2) Se você acha A melhor que B não é porque os fatos quando confrontados revelam isso, mas porque sua visão é produto apenas da cultura que você vive, não tendo nenhuma ligação com a verdade.

Por ex: se você acha que o matriarcado é atrasado é porque é um (usando as palavras da Lílian) “homenzinho ocidental, cheio de preconceitos e de egocentrismo, tipicamente ocidentais: o homem branco, filho feito a imagem e semelhança de Deus e dominador da natureza!”

Isso é a falácia do Bulverismo e pode ser expressa da seguinte forma:

-Você afirma que A (matriarcado é atrasado) é verdadeiro.

-O interlocutor afirma que por causa de B (você é um “homenzinho ocidental, cheio de preconceitos e de egocentrismo”) , você pessoalmente deseja que A seja verdadeiro.

-Portanto, A é falso.

A falácia consiste no seguinte: os motivos de uma pessoa nada alteram a validade do argumento usado por essa pessoa. Primeiro deve-se refutar o argumento para depois afirmar que fulano acreditou equivocadamente em “A” por motivo “X”.

Esse argumento é vil. O pós-moderno, ao acusar o outro de preconceituoso, automaticamente está se santificando. É como se dissesse subliminarmente: “se você é preconceituoso então significa que eu estou do lado do ‘bem’”.

Assim o pós-moderno constrói para si uma aura de santidade, cria a falsa imagem de quem não julga e é tolerante, causando a impressão de que ele está certo. Ao mesmo tempo em que evita o debate, pois evita ter que refutar os interlocutores acusando-os de ter uma visão limitada por causa do seu contexto cultural.

Oras, esse argumento de “você pensa assim por motivo cultural X” é um tiro no próprio pé dos pós-modernos.

Se a visão de quem acredita que A é melhor B é fruto do contexto cultural, e portanto inválida como verdade, então a visão do pós-moderno TAMBÉM é inválida, pois o pós-moderno que tenta refutar o interlocutor dizendo que ele pensa de forma “A” por causa do contexto cultural está refutando a si próprio porque o pensamento pós-moderno TAMBÉM é fruto do contexto cultural, é como querer provar que estatísticas não funcionam usando estatísticas.


Autor: Jack Deth (1)


Este texto foi originalmente postado na comunidade do Orkut “Mulheres Pseudo-Intelectuais


Notas:

(1) O texto acima foi gentilmente cedido pelo autor para a publicação neste blog
(2) HQE trata-se da comunidade do orkut “Homens: Quem Entende?”

2 comentários:

Caio Mariani disse...

Oi Paula, (saudades)

Temos primeiramente que perceber que melhor e pior são apenas conceitos criados pelo homem, no mundo fora da visão do homem, no próprio mundo não existe melhor ou pior objetivamente, acho que isso é indiscutivel.

Para o homem porém, melhor é aquilo que aumenta as nossa chances de sobrevivência.

O problema é que temos que criar critérios para definir o que é melhor ou pior, se é necessário a criação de critérios, exemplo: provas, competições, comparaç
ões, logo é subjetivo.

Se é subjetivo não existe fora da mente humana, porém, existem sim, como linguagem, para descrever algo que é mais qualificado do que outro, para comparar, e isso sim existe e é e foi muito importante para a sobrevivência humana.

Beijos
Caio

Paula disse...

Oi, Caio! :-)

Apesar de não ser algo tão objetivo, o melhor e o pior existem na natureza fora do escrutínio humano. Basta pensarmos na seleção natural: a característica que se adapta áquele meio o faz porque mostra-se melhor do que outras naquele contexto.

Mas isso não implica em juízos de valores - estes, sim, exclusivamente humanos.

Gostei deste texto exatamente porque ele procura mostrar a dissociação entre o melhor e o pior contextualizados, sem a necessidade de estabelecermos estes juízos que acabam atrapalhando uma análise crítica da realidade.

Eu posso afirmar que ruminantes aproveitam melhor os recursos vegetais do que os seres humanos. Afinal, eles digerem celulose. Mas eu posso afirmar que os ruminantes são superiores aos humanos? Não.

Se eu afirmasse que sim, seria um erro de lógica. Melhor e pior não indicam relação de superioridade geral quando se referem a situações e/ou características específicas.

Este tipo de associação traz o peso do politicamente correto para as ciências.

Fulano não pode dizer (ou publicar) que os Siths têm uma espada melhor do que as dos Jedis, porque a sociedade vai entender que ele está afirmando que os maus são superiores aos bons.

Além disso, este tipo de relativismo apela para um tipo de lógica em que nada é discutível. Algo como ocorre com o inconsciente em Freud e com o solipsismo.

Beijos, e saudades.