Não sei o que me leva, desconheco o porque, mas sei que entro no deserto solitário de areias companheiras, à marcha lenta eu ando e o sol não me mata, mas a noite vem me mostrar a sua luz, não sei se é bom ou ruim, na verdade não sei mais o que é bom ou ruim, não sei de nada, mas sei que saberei no fim desse caminho construido nas colinas deserticas.
De repente entro numa viela, parece que algo me antinge incessantemente, é a garoa que cai lentamente e sem barulho, olho para a luminária na rua e só vejo uns finos trechos de agua caindo do ceu, sem rumo eu sei para onde eu vou.
Perco totalmente a noção do tempo e do espaço, o mundo se derrete, e já não conheço mais o meu “eu”, pois eu nunca sou, não consigo pegar o presente. Vejo uma caixa de correio, minha curiosidade me leva até ela, chego perto e pego um pacote bem embalado, e lá estava ele: o presente.
Percebo que o presente estava malpassado, na verdade o presente era malpassado, não existia, tinha acabado de passar, mas como poderia ter uma luminária e uma caixa de correio no meio do deserto? Me parecia ser um sonho.
Acordo no meio do deserto, percebo que a garoa na verdade eram as gotas de suor que percorrem o meu corpo, tinha dormido muito e acordado com o ardor fervente do deserto.
Mas me questiono: e se tudo for um sonho? Quando sonho penso que é real, mas quando acordo consigo diferenciar minhas experiencias oníricas do que meu olhar apanha, mas não consigo provar as imagens formadas na minha consciencia, pode ser tudo um sonho mesmo, mas não vejo vantagem em tratar o que eu percebia como fantasia, não apalpo o pragmatismo, logo coloco-me a caminhar pelo deserto mais uma vez.
Continuo, o deserto é o obstaculo, a mente é a minha aliada e a esperança minha ferramenta, não sei porquê tomei essa decisão, não sei se alguma vez na vida já tomei alguma decisão, será que sou diferente desses grãos de areia que são levados pelo vento desertico? Que vento que me trouxe aqui? Nao sei, desconheço.
No meio dessa aridez me encontro com um sentimento de solidão humana percebo que faço parte do mundo, mas de onde eu vim? E a areia, da onde esta veio? Sei que a areia se formou a partir do intemperismo, quanto tempo levou para formar esse deserto? E eu? Sou tão especial assim?
Me parece que sou igual a areia em sua solidão grupal e estimo que me tornarei uma, aquela que tenta se abraçar a outra quando os ventos sulinos se aproximam tentando leva-las em caravana para longe, mas que no fim é o mesmo lugar.
A tristeza me carrega e sem forças eu marcho, o medo toma conta de mim, nesse momento não tenho controle, percebo que na verdade eu nunca tive, apenas a ilusão de um, tento lutar, mas no fim sou incapaz de vencer as leis que regem esse mundo, deito e esposo meu passado e meu futuro, minha origem e meu presente: as areias do deserto.
10 comentários:
Caio!
Quando li... sua crônica? Desabafo? Sua angustia?..não sei companheiro, apenas posso dizer do que causou em mim, apenas posso dizer do reconhecimento de minha alma e minhas dúvidas e certezas nesse texto.
Acho que retrata a condição humana, nas certezas absolutamente incertas.No acreditar que dominamos nosso destino,que temos as rédeas de nossa vida em nossas mãos...mera ilusão.
Melhor não dizer mais nada, apenas que me emocionou muito e um nó se formou em minha garganta.
Obrigada por me mostrar que estamos todos no mesmo barco, que não sou única e que tudo isso faz parte da condição humana, não importa que tenhamos 20 ou 50 anos,que tenhamos conhecimentos acadêmicos ou apenas empíricos.
Desculpe se absorvi de uma maneira totalmente diversa de sua intenção/sentimento ao escrever.
Mas todos os textos só pertencem ao autor enquanto não publicado certo?
Depois de publicado ele passa ser de todas as almas, sentimentos e desejos.
Maria,
O texto trata exatamente sobre isso que voce colocou, cada um sente de uma maneira, por mais que somos todos diferentes, no fundo somos todos iguais.
Obrigado pelo elogio e pelo belo comentário.
Caio,
claro que é tendencioso eu dizer isso, por ser no nosso blog... mas vc arrebentou nesse texto!
"nesse momento não tenho controle, percebo que na verdade eu nunca tive, apenas a ilusão de um, tento lutar, mas no fim sou incapaz de vencer as leis que regem esse mundo, deito e esposo meu passado e meu futuro, minha origem e meu presente: as areias do deserto."
Muito, muito legal!
O grão de areia pode não ter importância, mas não fosse pela sua coesão coletiva, a beleza interminável do deserto jamais existiria.
Dá pra perceber a carga filosófica transbordando do seu texto, uma característica bem sua.
Não sei se arrisco uma interpretação, sou péssimo nisso...
Mas sinto que seu texto trata da confusão derivada da experiência de viver e indagar, do paradoxo que é ser agraciado com a individualidade e a consciência para reconhecê-la e que, ao mesmo tempo, nos permite vislumbrar assombrados toda a insignificância de nossa existência.
Somos nômades no deserto da Existência à procura de algum significado...
Provável que tua interpretação seja diferente e, tenho certeza, muito mais rica do que aquilo que extrai dos teus escritos, mas independente disso, uma coisa é certa: é um ótimo texto!
Um grande abraço!
Paula,
Obrigado pelo elogio.
Jarbas (Feanor),
Somos nômades no deserto da Existência à procura de algum significado...
Bela frase, o texto tem sim a ver com isso, estamos sempre procurando um significado para a existencia, mas no fim o que sabemos é que somos iguais a um grão de areia, temos a mesma origem e quando morrermos nos tornaremos grãos de areia.
Abraços
AVISO IMPORTANTE
Tarde de autógrafos com Caio Mariani. Ingressos a apenas R$ 50,00. Tratar com a empresária dele (eu mesma).
:-)
Ei Paula...vc se esqueceu de dar o endereço de onde acontecerá a tarde de autógrafos hehehehe...
O pagamento deverá ser realizado em Curitiba. Mas a tarde de autógrafos será em Portugal e deverá ser agendada. rsrsrs
isso podia virar musica da longfellows hein!!
uheuheueue.. sinistro!
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