terça-feira, 26 de agosto de 2008

Felicidade


A felicidade é uma sensação que sentimos, uma sensação boa, prazerosa. Porém qual o motivo de nos sentirmos felizes e o que traz a felicidade? A única maneira de responder essas perguntas é analisar a formação do homem.

Sabemos que os prazeres que sentimos estão diretamente relacionados com nossas necessidades, ou seja, sentimos prazer nas coisas que eram e são importantes para sobrevivência individual ou coletiva da espécie.

Nos sentimos felizes quando temos capacidade de satisfazer os nossos prazeres, estes estão relacionados com as necessidades individuais e sociais da nossa espécie, comer é um prazer, essencial para a sobrevivencia de cada um, assim como o prazer pelo sexo é essencial para a sobrevivencia da espécie.

Ao mesmo tempo que precisamos estar livres do outros individuos, porque isso diminui a concorrencia pelos prazeres, também é importante gostarmos de estar com os outros e sermos aceitos pelos outros.

Isso fica claro ao analisar qualquer grupo, ao mesmo tempo que dentro do grupo existe uma briga, que é chamada de uma disputa intra-especifica, que é interresante para o grupo porque esta briga elimina os “fracos” (menos adaptados) e os “fortes” (mais adaptados) sobrevivem, logo aumentando a força do grupo. Porém, quando esse grupo entra em guerra com outro grupo, é interressante que ocorra uma união e a disputa interna fique para trás. Logo, se conclui que ambos são importantes.

Todos procuram ambos: aceitação e liberdade, porque ambos são importantes para a sobrevivencia, e ambos estão ligados com o conceito de felicidade. Ou seja, precisamos de dinheiro e poder, porém precisamos de "amor" (união) também. Ambos são importantes e ambos trazem felicidade, por isso que acho que a busca correta, não é escolher um dos dois e sim ter o equilibrio.


A felicidade e os prazeres é uma maneira autonoma, “criada” pela natureza, para fazer com que os individuos repetissem uma ação, e como um método de comunicação, quando sentimos dor, normalmente gritamos, e quando sofremos choramos, isso são maneiras de alertar o grupo. Assim como a felicidade é uma maneira de verificar se o individuo é “bem adaptado” (individualmente e socialmente), logo é uma característica de selecionar parceiros, quando procuramos um parceiro tanto na amizade como sexualmente falando, procuramos alguem que seja feliz, que irá nos trazer felicidade, porque os tristes, depremidos não são interessantes, a não ser que nos acompanhem na amargura.

Assim como o livre-arbitrio, ocorre uma tendencia de ir contra as explicações baseadas na ciencia para explicar os nossos sentimentos, porém a proposta não é falar algo bonito, poético e sim explicar como funciona, quais são os momentos mais prazerosos na vida de alguem? Não é quando nasce o filho, quando fazem sexo com alguem que consideram “bem adaptado”, quando se realizam pessoalmente, quando estão convivendo socialmente, quando o filho se realiza tanto individualmente como socialmente. Logo percebemos que é um fato, a felicidade está relacionada com a sobrevivencia da espécie.

Mas nunca estamos sempre felizes, a felicidade é como a fome, comemos e nos saciamos, mas o tempo passa e precisamos comer de novo. O que é muito discutido é que essa característica da felicidade ser insaciável, não ser eterna, é um problema, quando na verdade não é. Se não tivéssemos fome, não teríamos o prazer em comer, logo eu prefiro sentir fome, porém depois sentir o prazer em comer do que não sentir nenhum dos dois.

O sofrimento e a dor não são problemas, são as maneiras que a natureza encontrou do homem sobreviver, logo não aceitá-los é não se aceitar.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Livre-arbítrio

Todos devemos tomar decisões nas nossas vidas, essas são limitadas pelo meio em que vivemos, mas essas decisões que fazem uso da razão para decidir entre o melhor e o pior são tidas através de observações passadas e do instinto. Até que ponto realmente escolhemos alguma coisa?

No momento que o espermatozóide fecunda o óvulo, ocorre a fusão entre os genes do homem e da mulher. Nesse momento há um processo biofísico que define as características biológicas do ser, durante a gestação e depois do nascimento o ser se encontra num meio. Logo quando nasce o meio o influencia, uma maneira de explicar de forma mais detalhada é usar um exemplo de gémeos siameses, por mais que geneticamente sejam idênticos estão em posições diferentes no útero, um sai primeiro que o outro, ficam em camas diferentes sentam em janelas diferentes no carro e todos os mínimos detalhes que influem no “lado” social do ser. Se o mesmo individuo nascesse na Idade Média este seria completamente diferente.

Imagine um nenê, todas as suas “escolhas”: chorar ou não, defecar ou não, são praticamente tomadas pelo bio (instinto), o meio (social) vai influenciando-o conforme este cresce. A pessoa é definida pelo bio e pelo meio, mas ambos não foram “escolhidos” por ela, pois nem existe essa possibilidade, uma vez que o ela é o bio-social (instinto-meio). Se todas as escolhas são definidas pelo bio (instinto) e o pelo social (meio) e não existe possibilidade de escolher nenhum dos dois, não existe escolha.

Por outro lado, as variáveis que compõem o processo de escolha, de modo externo ao indivíduo, também fogem ao seu controle. Não há como alterá-las.

A maneira como o indivíduo vai interagir com estas variáveis depende que quem esta pessoa é. Depende da sua visão de mundo, da sua maneira de agir (ou evitar a ação), das suas prioridades e valores. Mas tudo isso, que podemos resumir como "visão de mundo", é resultado das contingências passadas, e estas são inexoráveis.

O que ocorre, então, é um indivíduo invariável, determinado naquele instante, interagindo com variáveis também fixas (por mais que numerosas). Se a opção entre estas variáveis depende do indivíduo, e este é determinístico no momento da escolha, a escolha é ilusória. O indivíduo não teria como optar de outra maneira, porque sua concepção de mundo o leva a fazer esta opção.

Portanto, a partir do momento que somos restritos às contingências, não há de fato livre-arbítrio.

Liberdade

A Liberdade realmente existe? Para discutirmos a possibilidade de atingir tal estado, temos que levar em consideração todas as variáveis que envolvem esse conceito.
A primeira liberdade que vem à cabeça é a de ir e vir, os prisioneiros não possuem essa liberdade pois estão condicionados ao tamanho da cela, mas também estamos condicionados à natureza, ou seja, não podemos ir para todos os lugares que queremos a hora que queremos, estamos condicionados as leis da natureza que não conseguimos "superar", e a maioria de nós financeiramente presos para usar as tecnologias que já foram desenvolvidas.

E podemos ainda colocar que estamos presos as pessoas que são íntimas em nossas vidas, como nossos cônjuges, amigos e principalmente os filhos, se buscar a liberdade significa buscar a possibilidade de satisfazer os prazeres, e estar com um filho é um prazer, então temos um paradoxo, pois de um lado temos o prazer da liberdade e do outro o prazer em estar com o filho. Viver sozinho e não ter filhos é ter liberdade, mas de qualquer maneira caímos no paradoxo, pois a felicidade está condicionada ao social, e a busca por liberdade tem como escopo a felicidade então caímos no paradoxo.

Do mesmo modo que os instintos são necessários à sobrevivência, a formação de uma sociedade também é. E, mais que necessária, também pertence ao campo dos instintos. A espécie humana é muito social, e este aspecto foi um dos determinantes na nossa capacidade de adaptação e dispersão.

E toda espécie social, mesmo entre os animais, possui suas regras, que muitas vezes constituem paradoxos, assim como as nossas. Por exemplo, uma matilha de cães tem um macho dominante, e este é o único que tem o "direito" de se reproduzir. Mas os outros cães também possuem o instinto de se reproduzir. A regra social da matilha, então, entra em conflito com os outros instintos mais básicos (individuais) da maioria dos indivíduos que a compõe.

Mesmo que houvesse a possibilidade de viver feliz sem a presença de qualquer ser, estamos condicionados naturalmente às nossas necessidades, e todas essas nos proporcionam prazer, estamos presos à fome por exemplo, não podemos ir para lugares onde não é possível obter alimentos, assim como não podemos comer tudo que queremos pois podemos morrer ao comer um cogumelo venenoso."

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Egocentrismo do Altruismo



Altruísmo é fazer uma ação pensando no bem do próximo, e egocentrismo é fazer uma ação visando o seu próprio bem. Se analisarmos superficialmente chegaremos a conclusão que são opostos. Porém na verdade não é, qualquer ação feita por um indivíduo acontece pois este a considera certa. Não existe nenhuma ação sem ter como escopo o bem do “eu” (ego).

O altruísmo na verdade tem como fundo o instinto de sobrevivência da espécie como um todo. Os indivíduos que ajudavam os outros, que formavam grupos unidos tinham maior chance de sobrevivência e transmitiam o prazer em ajudar o próximo, ou seja, o indivíduo que ajuda o outro sente prazer nesse ação e a repete. Entre animais, muitas vezes o altruísta realmente se sacrifica pelo grupo, é aquele macaco que se expõe aos predadores para desviar a atenção enquanto o resto do grupo foge. O grupo que possui mais indivíduos como este tende a ter maior chance sobrevivência. Então, apesar de não ter uma vantagem adaptativa individual, esse indivíduo altruista tem menores chances de se reproduzir do que os outros dentro do grupo, por isso são poucos, mas os grupos que proporcionam maiores chances deste se reproduzir sobrevivem mais que os outros grupos.



Porém isso acontece quando temos muitos recursos, espaços, quando não há muita competição, nesse caso há uma maior união, se analisarmos as sociedades primitivas percebemos isso de maneira clara. Porém com o aumento populacional ser altruísta não é tão importante quanto ser egoísta, defender apenas a sua pessoa e a sua família, é uma garantia maior de sobrevivência, pois há uma maior competição, um aumento na dificuldade para obter os recursos necessários para sobreviver.

Por isso que vemos cada vez mais o incentivo de ações altruístas, conforme o aumento populacional ocorre a necessidade (individual) de ser egoísta para poder ter recursos e sobreviver, assim como a necessidade (social) de propagar o incentivo da distribuição destes (recursos) para a espécie sobreviver. Se ser altruísta é considerado uma virtude, então há um impulso para a pessoa realizar tal ação, mas não são todos que continuam, pois geneticamente não são todos que tem maior prazer em ajudar os outros (social) do que se realizar pessoalmente (individual).

O Moderno Coliseu


Na natureza, a violência é comum e toma vários aspectos. A competição por interferência, que pode se dar tanto entre como dentro de uma espécie, ocorre quando indivíduos interagem diretamente, competindo por alimento ou espaço territorial, ou, ainda, pela reprodução sexual, quando na mesma espécie (3). Esta luta muitas vezes significa a morte do “opositor”. Há, ainda, outros casos mais específicos de violência entre os animais, entre os quais podemos citar, como exemplo, os machos que, ao se tornarem dominantes, eliminam os filhotes do macho dominante anterior, alguns casos de parasitismo, predadores, e até mesmo relações sexuais onde o macho se torna alimento para a fêmea.

Os ancestrais hominídeos, que deram origem ao homem, a partir do gênero Homo, eram caçadores que competiam com outros carnívoros (4). Além disso, é visível aos olhos de qualquer observador a violência implícita à sociedade humana atual, apesar desta ser culturalmente condenada em diversos grupos.

Nenhuma cultura duradoura pode ser apenas um agregado de tradições aprendidas independentemente; é, antes, um sistema historicamente formado de regras de vida explícitas e implícitas, e o comportamento é evidentemente moldado por esta cultura (1). Os valores que constituem os alicerces da sociedade, portanto, fundamentam as regras sociais e determinam o comportamento dentro desse âmbito. Entretanto, não há nenhum "dever-ser" necessário nestes valores. Eles não existem fora da sociedade, de modo que só fazem algum sentido dentro do contexto social. E, em muitos casos, tratam-se de uma contradição aos instintos humanos.

A violência, portanto, é proveniente da "libertação" destes instintos. Cria-se, a partir de então, um sentimento contraditório, de desejo e repulsa pela violência. Isto explica a citação de Dostoiévski, que conhecemos como verdadeira e chocante pelo senso-comum: “Há um estranho sentimento de satisfação que as pessoas não deixam de experimentar à vista da inesperada desgraça alheia, e do qual nenhum homem escapa, apesar do mais sincero sentimento de compaixão e simpatia” (2)


Referências:

(1) Dobzhansky, T. G. O Homem em Evolução. Editora da USP, SãoPaulo, 1968.

(2) Dostoievski, F. M. Crime e Castigo. Editora Martin Claret, São Paulo, 2007.

(3) Futuyma, D. J. Biologia Evolutiva. 2ª. Edição. Editora da SBG/CNPq, Ribeirão Preto, 1992.

(4) Lewin, R. Evolução Humana. Editora Atheneu, São Paulo, 1999.