terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Moderno Coliseu


Na natureza, a violência é comum e toma vários aspectos. A competição por interferência, que pode se dar tanto entre como dentro de uma espécie, ocorre quando indivíduos interagem diretamente, competindo por alimento ou espaço territorial, ou, ainda, pela reprodução sexual, quando na mesma espécie (3). Esta luta muitas vezes significa a morte do “opositor”. Há, ainda, outros casos mais específicos de violência entre os animais, entre os quais podemos citar, como exemplo, os machos que, ao se tornarem dominantes, eliminam os filhotes do macho dominante anterior, alguns casos de parasitismo, predadores, e até mesmo relações sexuais onde o macho se torna alimento para a fêmea.

Os ancestrais hominídeos, que deram origem ao homem, a partir do gênero Homo, eram caçadores que competiam com outros carnívoros (4). Além disso, é visível aos olhos de qualquer observador a violência implícita à sociedade humana atual, apesar desta ser culturalmente condenada em diversos grupos.

Nenhuma cultura duradoura pode ser apenas um agregado de tradições aprendidas independentemente; é, antes, um sistema historicamente formado de regras de vida explícitas e implícitas, e o comportamento é evidentemente moldado por esta cultura (1). Os valores que constituem os alicerces da sociedade, portanto, fundamentam as regras sociais e determinam o comportamento dentro desse âmbito. Entretanto, não há nenhum "dever-ser" necessário nestes valores. Eles não existem fora da sociedade, de modo que só fazem algum sentido dentro do contexto social. E, em muitos casos, tratam-se de uma contradição aos instintos humanos.

A violência, portanto, é proveniente da "libertação" destes instintos. Cria-se, a partir de então, um sentimento contraditório, de desejo e repulsa pela violência. Isto explica a citação de Dostoiévski, que conhecemos como verdadeira e chocante pelo senso-comum: “Há um estranho sentimento de satisfação que as pessoas não deixam de experimentar à vista da inesperada desgraça alheia, e do qual nenhum homem escapa, apesar do mais sincero sentimento de compaixão e simpatia” (2)


Referências:

(1) Dobzhansky, T. G. O Homem em Evolução. Editora da USP, SãoPaulo, 1968.

(2) Dostoievski, F. M. Crime e Castigo. Editora Martin Claret, São Paulo, 2007.

(3) Futuyma, D. J. Biologia Evolutiva. 2ª. Edição. Editora da SBG/CNPq, Ribeirão Preto, 1992.

(4) Lewin, R. Evolução Humana. Editora Atheneu, São Paulo, 1999.

7 comentários:

Caio Mariani disse...

Um exemplo de perceber que temos prazer em violência é quando vemos filmes como "Coração Valente", "Gladiador", todos os filmes desse genero, assim como os filme de crime, tanto policiais quanto gangsters.

Ou até mesmo quando aquele personagem que não gostamos se dá mal numa novela, claro que a violencia sempre é divertida quando é feita com os nossos inimigos.

Dizer que não gosta de assistir violência é ser hipócrita, ou se enganar, com medo de uma reprimenda social. Não é uma apologia à violência e sim uma analise da essencia do ser humano, que assim como os outros animais é um ser violento, não que o violento seja moralmente correto, mas naturalmente sim.

Anónimo disse...

Muito bom o artigo, mas...e a violência psicológica,praticada diáriamente,por pais, maridos, chefes..?
Ela existe realmente em nossa sociedade e em nosso dia a dia.
E é praticada apenas pelos seres humanos.
Podem me explicar isso?
Esse tipo de violência, psicológica, também mata, também destrói.

Paula disse...

A violência psicológica é outra coisa... Acredito que esteja relacionada com a necessidade de dominação, semelhante ao macho ou à fêmea dominante em um grupo. Algo como "este território é meu, lembre-se sempre disso!".

Unknown disse...

Gostei Paula, muito bom mesmo, por isso antes de agredir meu patrão vou mostra este texto pra ele, (brincadeira).
Gostei mesmo, acredito até de que nem o mais humanizado consiga segurar alguns impulsos, como a vontade insaciável de ver o palhaço cair, a batida na corrida de F1, entre outros.
Só não entendo porque a violência nos sacia, todo humor é baseado em violência, seja ela física ou psicológica, basta assistir a qualquer programa de comédia na tv. Será que somos tão dependentes da violência, mesmo ditos humanizado e racionais, ela não seria superada pela racionalidade, como pensam alguns, pela evolução da condição humana?

Paula disse...

Bom, Felipe... vc até pode mostrar, só não conta quem escreveu. hahaha

Eu acho que não somos exatamente dependentes da violência. Acho que essa dita "evolução racional da condição humana" é que contraria nossos instintos mais básicos. E a violência está entre estes instintos!

Por isso, acho que essa saciedade que vc citou está relacionada a uma liberação, mesmo que parcial, desses impulsos reprimidos cotidianamente.

Mas, claro, estou falando de quem os reprime... não daqueles que gratuitamente sufocam as amigas com o cobertor... hahahahaha

Beijo!

Anónimo disse...

"Mas, claro, estou falando de quem os reprime... não daqueles que gratuitamente sufocam as amigas com o cobertor"
Às vezes eu fico até com medo de imaginar algumas coisas!!! heiauheiaehiaueha

Mas voltando ao assunto...=)
Eu acho que a violência é apenas mais um ponto que prova a natureza animal do ser humano. As pessoas parecem sempre se basear na inteligencia humana, na racionalidade, pra tentar provar que o ser humano é outra coisa que nao um animal, mas é como foi dito anteriormente (no texto, se nao me engano), a violência faz parte do instinto.

Paula disse...

Rapha,

melhor deixar certos detalhes para lá... hahahahhaa

Acho que vc disse tudo!

Beijos