quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Meritocracia, Contingências e o Escambau



Mesmo entre aqueles que defendem mais arduamente a idéia de liberdade humana, admite-se a existência de contingências, que de alguma forma limitam esta liberdade. Mas, se há liberdade, a meritocracia é justa: obtém o objeto de desejo aquele que mais se esforça para conseguí-lo.

Se pensarmos, entretanto, nas contingências reais, este esforço torna-se menos salutar. Um exemplo seria a inteligência. Há estudos da sociobiologia indicando uma correlação de cerca de 0,54 entre o QI e a genética (1). Podemos pensar, então, que o resto se deve ao ambiente, e este ambiente depende do próprio esforço.

Mas o ambiente também tem contingências. Uma pessoa criada por pais que valorizavam o conhecimento e o esforço para a aprendizagem terá melhores resultados neste setor. Mas, para que os pais se comportassem assim, eles devem ter este mesmo atributo genético e/ou terem sido criados da mesma forma. E assim sucessivamente.

Pela meritocracia, quem não se esforça e/ou não tem inteligência ou capacidade de aprendizagem não conseguirá, por exemplo, entrar numa universidade. Mas se todos estes quesitos dependem de fatores externos ao indivíduo, a conquista depende muito menos dele do que da "sorte". Neste caso, a meritocracia se torna apenas uma maneira ilusória de igualdade de condições, e continua privilegiando os "escolhidos" pela natureza.

No aspecto da inerência:
Normalmente, a inteligência vem acompanhada de curiosidade. Portanto, o fato de ser inteligente vai induzir a criança a criar questões, e essas dúvidas a levarão a procurar conhecimento. As informações também serão melhor compreendidas por aquele que apresenta uma maior capacidade cognitiva.

No aspecto do ambiente:
Os estímulos recebidos dependem enormemente da posição dos pais a respeito, ou seja, se colocam a criança numa escola, se a estimulam a ler, etc.
Os estímulos dependem também do interesse da pessoa em buscar o conhecimento. Se os pais não tivessem o interesse pessoal antes, não se preocupariam em oferecer isso aos filhos.

Mas o interesse da pessoa em buscar o conhecimento está relacionada com a curiosidade, que está, por sua vez, relacionada à inteligência "inerente" e à iniciativa.
A posição dos pais a respeito está relacionada com a própria capacidade cognitiva deles e com os estímulos que eles mesmos receberam, que está relacionado com o próprio interesse anterior deles. É mais fácil os pais se preocuparem com os resultados das crianças se eles mesmos forem inteligentes, e assim por diante. Há uma tendência das variáveis positivas ao "sucesso" se aglomerarem em determinado grupo, e as variáveis negativas em outro, porque muitas delas são interdependentes.

Claro que num sistema meritocrático há a valorização do esforço. Mas a própria iniciativa do esforço entra no mesmo caso. Não há como alguém efetivamente decidir entre ser esforçado ou não.

Isso porque nós somos hoje o que nascemos sendo, inerentemente, e o resultado da interação desse "inerente" com as nossas experiências pessoais.
Um indivíduo não tem como optar por ter outras características genéticas, como não pode optar pelas experiências pelas quais já passou.

Por outro lado, as variáveis que compõem o processo de escolha, de modo externo a este indivíduo, também fogem ao seu controle. Não há como alterá-las.

A maneira como alguém vai interagir com estas variáveis depende que quem esta pessoa é. Depende da sua visão de mundo, da sua maneira de agir (ou evitar a ação), das suas prioridades e valores. Mas tudo isso, que acho que dá para resumir como "visão de mundo", é resultado das contingências passadas, e estas são inexoráveis.

O que ocorre, então, é um indivíduo invariável, determinado naquele instante, interagindo com variáveis também fixas (por mais que numerosas). Se a sua opção entre estas variáveis depende de você, e você é determinístico no momento da escolha, a escolha é ilusória. Você não teria como optar de outra maneira, porque sua concepção de mundo o leva a fazer esta opção.

O homem pode alterar a estrutura genética de alguém que vai nascer. Ele não pode alterar sua própria estrutura de modo a conseguir uma alteração fenotípica. O que você já é, não pode ser modificado nesse exato instante. Se as suas experiências futuras mudarem, você futuramente será diferente. Mas exatamente neste momento todas as experiências são passadas e presentes. Não há como modificar isso.

Portanto, você, agora, é determinado. Não o seu futuro, mas o seu presente. E tudo o que temos efetivamente é o presente.

Portanto, em termos mais simples, dificilmente filhos de pais pouco inteligentes ou “esforçados” serão capazes de serem, por sua vez, inteligentes (nos termos gerais) ou “esforçados”, porque faltará tanto a inerência quanto o estímulo pessoal e externo. Daí, o mérito sempre será daquela "linhagem" que une as condições necessárias.

A meritocracia é considerada como um sistema justo, que proporciona oportunidades iguais. Mas se o esforço pessoal está sujeito a estas contingências que tornam o mérito quase determinístico, a meritocracia é tão justa quanto a competição que ocorre na natureza, sem o juízo da justiça ou igualdade.

Referências:
(1) Plomin, R., DeFries, J.C., McClearn, G. E. M. Behavioral Genetics: A primer. 2a. ed, Ed. Freeman and Company, 1990.

21 comentários:

D disse...

“No aspecto da inerência:
Normalmente, a inteligência vem acompanhada de curiosidade. Portanto, o fato de ser inteligente vai induzir a criança a criar questões, e essas dúvidas a levarão a procurar conhecimento. As informações também serão melhor compreendidas por aquele que apresenta uma maior capacidade cognitiva”.

Não seria a curiosidade a causa e a inteligência o efeito? A maioria das crianças são curiosas.O ser curioso produz inteligência, e mais inteligência produz mais curiosidade e mais inteligência assim sucessivamente.


“Claro que num sistema meritocrático há a valorização do esforço. Mas a própria iniciativa do esforço entra no mesmo caso. Não há como alguém efetivamente decidir entre ser esforçado ou não.”

Porque não? A genética é determinante do esforço???

“Isso porque nós somos hoje o que nascemos sendo, inerentemente, e o resultado da interação desse "inerente" com as nossas experiências pessoais.
Um indivíduo não tem como optar por ter outras características genéticas, como não pode optar pelas experiências pelas quais já passou.”

Aqui necessariamente devemos admitir que não temos vontade e nem capacidade objetiva de mudar em nós o que nos faz sofrer. Se assim é, para que existe a ciência psicológica?


“O que ocorre, então, é um indivíduo invariável, determinado naquele instante, interagindo com variáveis também fixas (por mais que numerosas). Se a sua opção entre estas variáveis depende de você, e você é determinístico no momento da escolha, a escolha é ilusória. Você não teria como optar de outra maneira, porque sua concepção de mundo o leva a fazer esta opção.”

Discordo. A escolha nunca é ilusória, ela acontece. É uma tese muito utilizada por advogados de defesa querendo amenizar a culpa de seus defendidos em um caso de assassinato, por exemplo, é como você ter que aceitar algo do tipo “meu cliente matou porque era a única coisa que ele podia fazer devido ao seu fenótipo e genótipo. Não vejo as ações humanas tão drasticamente determinadas assim, não somos robôs. Isso entra na questão do bem e do mal. Queremos fazer o mal, mas não o fazemos porque ele irremediavelmente voltara para nós. Porém, existem aqueles que optam pelo mal ainda assim.

“Portanto, em termos mais simples, dificilmente filhos de pais pouco inteligentes ou “esforçados” serão capazes de serem, por sua vez, inteligentes (nos termos gerais) ou “esforçados”, porque faltará tanto a inerência quanto o estímulo pessoal e externo. Daí, o mérito sempre será daquela "linhagem" que une as condições necessárias.”

Eu entendo a teoria, mas existem tantas exceções que as vezes é difícil de mantê-la. Conheço inúmeros casos de pais desleixados que tiveram filhos comprometidos com o próprio sucesso. Às vezes o exemplo negativo dos pais é um impulso para a busca do positivo pelos filhos.


D
www.imaginalismo.blogspot.com

D disse...

Da Scientific American Brasil de Novembro de 2008:

"Pesquisadores dispoem de novas tecnologias poderosas para examinar genes e cérebro, e encontrar a base da diferença intelectual entre pessoas"

"Esse trabalho fornece uma nova compreensão do que é a inteligência, embora também revele uma complexidade embutida na interação entre genes e ambiente."

"Quanto mais os cientistas entendem o papel dos genes na inteligência, mais misterioso ele se torna, e a dúvida permanece."

Os Editores.

Paula disse...

Oi, Denise!

Legal o que vc colocou da Scientific American. "(...) revele uma complexidade embutida na interação entre genes e ambiente." É exatamente do que falei, da interação entre genes e ambiente.

Quando vc fala sobre a curiosidade causar a inteligência, e não o contrário, depende do sentido de inteligência. Eu me referí à capacidade cognitiva em específico, porque o QI mede esse aspecto, relacionado ao raciocínio lógico. Mas é verdade que existe uma ampliação do conceito de inteligência (provavelmente do que a SA fala), e fica difícil de acessá-lo. Mas é difícil, também, falar sobre algo não específico, né! Então considere apenas o raciocínio lógico. Este não pode ser causado pela curiosidade a princípio, mas concordo que leva a um ciclo, como vc colocou.

Não é que a genética seja determinante do esforço. Mas a interação entre elas e o ambiente é. Quando vc fala da psicologia, e da vontade de mudar em nós o que nos faz sofrer, eu concordo. Não é que não possamos. Mas vc pode apenas no futuro, se receber as innfluências externas necessárias. É isso o que um psicólogo vai fazer: fornecer as condições para que vc mude. Mas se não houverem essas condições, não há como mudar. E essa é a limitação que eu coloco. Se as condições para mudar são limitadas em sí próprias, de modo cíclico, como isso vai ocorrer?

Mas na verdade acho que sua disordância se baseia na questão da opção, mesmo pq toda a lógica do texto se baseia nela. Mas aí eu te pergunto o seguinte: se podemos definir quem vc é pelas características que nasceu tendo e pelas experiências que vc teve na vida, de onde vem essa escolha?
Vc vai se guiar pelo que gosta, pelo que acha importante. Mas o que vc gosta e o que vc acha importante é definido por essas contingências. Então, como optar de modo diferente?

Cássio disse...

Me parece que o cerne da questão aqui é a questão do determinismo.

Concordo com a posição de que o Universo não é determinista, mas probabilista.

Nesse sentido, a escolha é possível.

D disse...

“Oi, Denise!

Legal o que vc colocou da Scientific American. "(...) revele uma complexidade embutida na interação entre genes e ambiente." É exatamente do que falei, da interação entre genes e ambiente.

Quando vc fala sobre a curiosidade causar a inteligência, e não o contrário, depende do sentido de inteligência. Eu me referí à capacidade cognitiva em específico, porque o QI mede esse aspecto, relacionado ao raciocínio lógico. Mas é verdade que existe uma ampliação do conceito de inteligência (provavelmente do que a SA fala), e fica difícil de acessá-lo. Mas é difícil, também, falar sobre algo não específico, né! Então considere apenas o raciocínio lógico. Este não pode ser causado pela curiosidade a princípio, mas concordo que leva a um ciclo, como vc colocou.

Não é que a genética seja determinante do esforço. Mas a interação entre elas e o ambiente é.”



Como o esforço pessoal de um ser pode estar relacionado com o gene? Você tem alguma pesquisa que indique esse fato?


“Quando vc fala da psicologia, e da vontade de mudar em nós o que nos faz sofrer, eu concordo. Não é que não possamos. Mas vc pode apenas no futuro, se receber as innfluências externas necessárias. É isso o que um psicólogo vai fazer: fornecer as condições para que vc mude. Mas se não houverem essas condições, não há como mudar. E essa é a limitação que eu coloco. Se as condições para mudar são limitadas em sí próprias, de modo cíclico, como isso vai ocorrer?”


Mas o que impede de que o homem procure mudar a si mesmo, hoje, para que deixe de sofrer sem ter que recorrer necessariamente à ciência psicológica?


“Mas na verdade acho que sua disordância se baseia na questão da opção, mesmo pq toda a lógica do texto se baseia nela. Mas aí eu te pergunto o seguinte: se podemos definir quem vc é pelas características que nasceu tendo e pelas experiências que vc teve na vida, de onde vem essa escolha?
Vc vai se guiar pelo que gosta, pelo que acha importante. Mas o que vc gosta e o que vc acha importante é definido por essas contingências. Então, como optar de modo diferente?”

Entendo o que você quer dizer, mas você não acha que desde pequenos, muito pequenos mesmos já estamos fazendo escolhas que nos levarão a ser o que somos hoje? Não seríamos hoje uma soma de ESCOLHAS anteriores e não apenas de imposições anteriores? A partir dos 14, 15 anos já podemos escolher até mesmo em que ambiente preferimos viver. Creio que essas contingências não são determinantes a todo momento, mas na maioria do tempo, determinadas. Discordo de que somos essencialmente um produto do meio, mas acredito que somos agentes modificadores do meio, através da vontade própria, que é algo muito pessoal, que não pode ser medido por índices e que muitas vezes não está ligado a genética de nossos pais e nem ao ambiente em que fomos criados, ao menos aparentemente.

Abraço!

Paula disse...

Oi, Cássio!

Tem razão, o cerne é o determinismo.

Eu tenho algumas restrições à idéia probabilística do Universo. As coisas ocorrem por acaso, é claro, mas no sentido de que não há uma finalidade para elas ocorrerem. Não há teleologia na realidade, a meu ver. Mas as variáveis ocorrem em decorrência de outras variáveis. As probabilidades só são probabilidades porque não conhecemos todas as variáveis envolvidas.

Por exemplo, hoje está um dia de sol em Curitiba. Mesmo os metereologistas teriam dificuldades em prever isso de modo correto (uma previsão determina probabilidades). Mas o dia de sol não aconteceu casualmente. Uma série de fatores levaram a isso, por exemplo, as correntes de ar. Os metereologistas podem analisar alguns fatores que determinam o comportamento dessas correntes, mas não todos. Assim como o comportamento de cada um dos fatores climáticos. Isso leva a uma probabilidade da previsão. Mas se eles pudessem analisar todos os fatores que alteram o comportamento de cada um deles, e os fatores que influem nos fatores, e assim sucessivamente, a previsão seria determinística - 100% certa.
Então, a característica probabilística reflete nossa falta de acesso ás variáveis, não uma característica real.

Por outro lado, mesmo que o universo fosse probabilístico, isso só se daria antes do fato ocorrer. Haveria a possibilidade de vc nascer ou não. Mas depois que vc nasceu, isso não é mais probabilístico. Assim, depois que as coisas ocorrem, isso não faz mais sentido. Quando vc vai fazer uma escolha, vc já é vc como fato consumado, assim como as variáveis que compõem o processo de escolha. A opção se dá, então, num plano não probabilístico...

Paula disse...

Oi, Denise!

O esforço pessoal não está relacionado a algum gene em específico, pelo menos que eu saiba. Deu a impressão no texto? Ele ficou meio confuso nisso, né!
Na verdade, a minha idéia do esforço veio de um papo com um amigo psicólogo, ele segue a linha behaviorista (mas não concorda 100% com essas idéias deterministas... rsrs). Seria mais ou menos assim: a pessoa recebe um estímulo inicial e condições que reforcem esse comportamento, de modo subsequente. Sem isso, a pessoa seria uma "mosca morta". No caso, acho que o esforço seria um produto do meio, mas não algo que ocorre de uma hora para a outra, entende? Não é alguém resolver "de agora em diante, serei esforçado". Depende dos estímulos que ela recebeu durante a vida inteira.

Assim, se a pessoa recebeu estímulos suficientes para poder ter essa iniciativa, ela poderia criar seus próprios reforços e mudar. Se não, ela seria incapaz de mudar sozinha.

Gostei do que vc disse sobre sermos agentes modificadores do meio. :-)
Eu não penso muito diferente, apenas acho que não há toda essa liberdade de ação. Acho que a gente vai modificando o meio e que somos resultado de nossas escolhas, mas cada escolha é resultado do conjunto anterior, até que se chega num ponto básico em que não houveram escolhas. Mas se dependemos do conjunto anterior para fazermos uma escolha, significa que fomos determinados por elas.

Deixa eu te dar um exemplo muito simplista, e que não abrange todas as variáveis, mas que dá para ilustrar.
Vamos supor que vc deteste comédia e romances, e adore filmes de terror. Vc está com muita vontade de assistir a um filme, e vai a uma locadora, a única aberta na cidade. Tem 3 filmes na prateleira, somente: um de comédia, um de terror e um romance. Vc, obviamente, vai escolher o de terror.

Mas essa sua escolha foi determinada pelo fato de não terem outras opções na prateleira e pelo fato de vc ter esse gosto para filmes. Também, não dava para mudar de locadora e vc não deixaria de locar porque estava com muita vontade de assistir.

Claro que não é simples assim, mas é esse tipo de determinismo. Até o que vc acha melhor para vc depende de quem vc é. Acho que uma escolha real só seria possível se pudéssemos nos desligar de nós mesmos.

abraços!

Cássio disse...

Interessante o seu ponto de vista.

Conheço essa corrente de pensamento, de que só há probabilismo na falta de conhecimento de todas as variáveis determinantes do resultado.

E, sinceramente, simpatizo com ela.

Mas sempre fico pensando. Será que todas as variáveis que influenciam no resultado são pré-existentes a ele, ou algumas poderiam se criar simultaneamente, instantaneamente para produzir aquele resultado?

Penso nisso, imaginando o princípio da incerteza, da física quântica...

Cássio disse...

Bah... só agora que eu vi que o próximo texto do blog é bem sobre esse ponto...

: )

Paula disse...

Cássio,

digamos que tenha sido... em sua homenagem. rsrsrs

beijos

D disse...

"Deixa eu te dar um exemplo muito simplista, e que não abrange todas as variáveis, mas que dá para ilustrar.

Vamos supor que vc deteste comédia e romances, e adore filmes de terror. Vc está com muita vontade de assistir a um filme, e vai a uma locadora, a única aberta na cidade. Tem 3 filmes na prateleira, somente: um de comédia, um de terror e um romance. Vc, obviamente, vai escolher o de terror.

Mas essa sua escolha foi determinada pelo fato de não terem outras opções na prateleira e pelo fato de vc ter esse gosto para filmes. Também, não dava para mudar de locadora e vc não deixaria de locar porque estava com muita vontade de assistir.

Claro que não é simples assim, mas é esse tipo de determinismo. Até o que vc acha melhor para vc depende de quem vc é. Acho que uma escolha real só seria possível se pudéssemos nos desligar de nós mesmos."



Eu não chamaria isso de determinismo, mas de possibilidade de escolhas. O fato de você ter poucas possibilidades de escolhas determina a sua escolha naquele momento, mas não o que você é em todos os momentos.

Não acredito que não possamos mudar completamente quando nos tornamos conscientes daquilo que realmente nos afeta de maneira negativa.

Suponho...

Abraço!
D
WWW.imaginalismo.blogspot.com

Anónimo disse...

Não tenho conhecimento acadêmico suficiente para discutir com vocês, mas o fato é que algo me incomoda demais diante do que leio neste e no texto de Caio.O que vocês colocam é terrivelmente pesado e angustiante , sou extremamente existencialista e de acordo com o texto de ambos, foi determinado que assim eu fosse em algum momento ,após o óvulo de minha mãe ter sido fecundado pelo esperma de meu pai.E depois tudo foi acontecendo independentemente de mim?Todas minhas escolhas,minhas ações e reações fogem de minhas mãos?Até mesmo ser apaixonada por literatura ao ponto de trocar a aquisição de bens essencialmentes femininos por um bom livro?Foi determinado geneticamente ou e pelo estímulo de meus pais?
Concordo que muitas escolhas são ditadas pelos acontecimentos e ou circunstâncias que as envolve, mas creio que temos escolhas sim, nem tudo esta pré-determinado.
Isso seria "vida de gado",seria aceitação plena e absoluta de todo e qq acontecimentos em nossas vidas.Você sabe Paula de onde vim,vc sabe que em minha cidade sequer banca de revista existia, nem tv,nem cinema, que creio serem estímulos do ambiente certo?Mesmo que meus pais tentassem nos estimular intectualmente estavam limitados.No entanto vc sabe que todos meus irmãos são muito bem articulados e possuem alguma cultura extra escolar.Então seu doutorado já estava "escrito"em sua vida?
Concordo que um indivíduo não tem como fugir de sua genética e muito menos das experiências pelas quais passou, mas isso não determina TUDO o que virá a ser a vida/escolhas/esforço/realização desse mesmo indivíduo.
Sou absolutamente consciente de que não podemos evitar as experiências que outros indivíduos nos oferecem,mas posso escolher NÃO permitir que estas se tornem determinantes em minhas escolhas.
Afinal eu escolhi abandonar a antropofagia certo?
Eu realmente não consigo deixar que o meu existencialismo não determine minhas opiniões, é isso?

Paula disse...

Isso não é uma questão academicista. É puramente elucubrativa. rsrs

O ponto do determinismo é que dá a impressão de algo escrito. Mas não é isso, não é um fatalismo. Certamente quando eu nascí meu doutorado não podia ser previsto, assim como seu gosto pela literatura. Não é uma vida de gado, escrita nas estrelas.

As coisas que ocorreram dependenderam de vc. Como disse a Denise, nós somos agentes modificadores do meio. Mas o meio também nos modifica, nos molda.

A questão não é o futuro, mas o passado. Quem é vc? O que faz com que vc tenha a sua visão de mundo hoje? (Não amanhã, mas agora, nesse exato instante). Vc é quem vc nasceu sendo, o que herdou de seus pais. Mas isso não determina o que vc será, só é um pano de fundo para isso.
Desde criança, vc vai tendo experiências, aprendendo. Quem vc é nesse momento - as coisas que vc gosta, suas prioridades, valores, etc - depende dessas experiências. Se vc tivesse nascido na URSS comunista, filha de pai desconhecido, por exemplo, vc seria uma pessoa totalmente diferente, não seria? Então vc agora é isso, é o que vc passou e quem vc nasceu sendo.

Se o seu passado é inexorável, e quem vc nasceu sendo também, não há como mudar o que vc é agora. Pode até mudar em seu futuro, porque vc vai passar por coisas diferentes. Mas nesse instante, num presente absoluto, vc é determinada.

Quando vc vai fazer uma escolha, no que se baseia? Em vc mesma. Ou seja, sua escolha vai depender do que considera melhor para vc. Mas se vc agora não pode mudar, é deterministica, então sua escolha de agora também é.

Mas, na questão da meritocracia, pense o seguinte: se vc fosse pouco inteligente (de nascença) e não tivesse tido oportunidades, para entrar no vestibular (que é o exemplo do texto) vc precisaria se esforçar. Mas se vc não aprendeu a se esforçar, não tem isso como parte dos seus valores, como vc vai se esforçar?

Eu sei que para vc é simplesmente resolver: vou fazer e pronto. Mas isso pq é algo seu.

Vamos imaginar um exemplo mais real. Meu pai tem medo de altura, e nunca gostou de esportes radicais. Ele seria capaz de decidir que quer realmente pular de pára-quedas, e se esforçar para conseguí-lo? Ele não faria isso porque, apesar de ele ter essa característica do esforço, simplesmente não é uma opção adequada a quem ele é. E porque ele mudaria isso? Ele pode até pensar que seria interessante pela adrenalina, mas oras, ele não gosta de adrenalina. Porque ele pularia de pára-quedas?

Seu próprio exemplo dos seus irmãos mostra isso claramente. Não seria muita coincidência pensar que todos os 5 irmãos nascidos em um local sem estímulos intelectuais tenham tanta cultura e gosto por ela? Acho que, por mais limitados que seus pais fossem, eles souberam oferecer os estímulos necessários para isso. Além, claro, de algo que possivelmente já nasceu com vcs.

É nesse sentido o determinismo. Não significa que ninguém possa modificar o que está á sua frente. Mas para modificar, deve-se ter os pré-requisitos necessários.

Mas se esses pré-requisitos necessários são esse passado, juntando as experiências que a pessoa teve e quem ela nasceu sendo, não dá para decidir de repente tê-los. Então a meritocracia privilegia quem teve esses pré-requisitos, e quem não teve é excluído do processo.

Vc pode decidir que seu existencialismo não afete suas opiniões. Assim como eu posso fazer isso com meu reducionismo. rsrs Mas nós só podemos fazer isso se algum estímulo for apresentado. Se nenhuma informação nova aparecer, porque deixaríamos? Poderíamos decidir por isso, a priori, mas se nossas visões são bem estabelecidas e correspondem ao que consideramos certo, nós decidiríamos?

Vc não vai acordar um belo dia, sem que nenhuma experiência te levantasse questões, pensando: hj eu vou deixar de ser existencialista. Acho que o existencialismo é certo e ele é uma prioridade em minha vida, mas vou deixar de ser mesmo assim.

Anónimo disse...

Ë sou obrigada a concordar em muitos pontos com vc.O que me horroriza é o determinismo do qual nunca se consegue fugir entende?Não tenho a pretenção de afirmar ( hoje) que nosso destino esta em nossas mãos, não está, sei disso.Mas penso que posso dar um giro nele entende?Pq se assim fosse, se determinismo fosse o dono de todas nossas "escolhas", não haveria de se condenar nada ou alguém, afinal esse "alguém"não pode em momento algum fazer uma escolha.
Beijoooooooo

Caio Mariani disse...

Maria Regina,

Na verdade a escolha existe aparentemente, por exemplo voce vem em casa, dai eu pergunto quer chá ou café? Voce vai escolher um dos dois.

Mas voce (quem escolhe), vai escolher baseado na sua genetica (paladar também é genetico), e nos seus costumes. Voce não escolheu gostar de café ou não, voce nasceu assim ou suas vivencias determinaram isso.

Se o "eu" é o conjunto da genetica e do meio, logo no fundo, voce não escolhe nada, porque voce não escolheu ser voce.

Anónimo disse...

Caio
Antes de tudo, já estou com saudade de seus textos menos acadêmicos/científicos,ou que me permitam entender assim, a eles eu entendo(?) um tiquinho mais...
Sabe Caio, eu entendo o que vcs colocam,racionalmente eu aceito, mas dentro de mim algo se revolta e não posso deixar de contestar.Sei e aceito esse tipo de (des)escolha genética, aceito que os psicóticos que cometem crimes hediondos não podem fugir disso.Nasceram assim.O que fico pensando e me incomoda muito, é sobre escolhas mais pessoais no sentido de escolher ser mãe em tempo integral( e creia isso não tem nada a ver com valores),escolher o que oferecer aos outros
Por exemplo:assiti a uma reportagem que dizia do aumento da AIDS entre as mulheres casadas e fiéis (rsrsrs)Pois bem, esses "maridos"são homens "esclarecidos", são indivíduos que conhecem os riscos, e no entanto....Isso não é uma escolha?Entende o que quero colocar?
Creio que até mesmo valores podem ser mudados,a sociedade é uma prova viva disso.
Será que seria correto eu usar "escolha filosófica"para me explicar?
Quando colocamos tudo como uma pré escolha independente de nós mesmos, isentamos a todos nós da responsabilidade.Sim, claro que eu sou o que sou , pq nasci assim.Mas creia,eu consegui modificar muitas coisas e características de minha personalidade.Já passei por alguns momentos de terríveis questionamentos e consegui extirpar as "coisas"negativas.
É...mas no fim acaba naquilo que vcs afirmam não é mesmo?As "coisas negativas"para mim, dentro do que sou,dentro de meus valores, mesmo que muito equidistantes dos que recebi, mas ainda assim MEUS VALORES e não há como fugir disso.
Mas Caio, ainda assim algo se rebela lá dentro..Será que estou me descobrindo uma inconformista?
Mas ainda chego lá,sou inconformista mesmo né?Tenho sempre que buscar a minha satisfação "espiritual"rsrsrs
Grande abraço e estarei sempre aqui a espera das "produções"de vcs.Tenho aprendido muito e aqui posso colocar com serenidade e sem medo as minhas "viagens.
Obrigada e não deixem de produzir sempre, sempre e sempre.

Unknown disse...

QUE HORROR.
Nem uma ameba é condicionada ou predeterminada dessa forma. Já tentei pensar assim, mas quanto mais pensei mais vi o erro e percebi a origem desse conceito. Como é possível imaginar limitações tão estritas ao ser humano?
Não concordo com nada disso. a humanidade só é o que é porque o homem tem a capacidade de evoluir e se libertar de amarras. Em todos os aspectos. Não concordo porque a meritocracia é sim um instituto redentor, libertador do homem. Ter sucesso não é entrar para uma universidade, se não, não haveria tanto vendedor da Casas bahia formado em direito. Ter sucesso é muito mais do que essa definição tão restritiva. Posso ser um sapateiro de sucesso, um pai de sucesso, um amigo de sucesso, um cientista de sucesso, um empresário de sucesso, mas ao mesmo tempo ser um insucesso em várias outras atividades.
O que definiu o que sou hoje foram minhas escolhas e elas não foram condicionadas somente pela minha carga genética ou inputs que recebi quando criança. Também, mas não somente. O homem é sim capaz de decidir e não é ilusório. Eu sou capaz de matar, isso é brutalmente o oposto da minha ética, da minha moral, por isso sei que posso, mas sei que por mais que as externalidades me forcem não devo fazer, mas se estiver bêbado posso decidir diferente. Se estiver ameaçado posso decidir entre correr ou lutar. Não é uma concepção de mundo que me leva a isso. Pode ser medo, raiva ou qualquer sentimento revelado no momento e não existe predeterminação para isso. Se acontecer isso você sente isso, bobagem.
Nós não somos o que nascemos. Não estamos condenados pela nossa genética. Se assim fosse, ainda estaríamos vivendo em cavernas e arrastando mulheres pelos cabelos. Se assim fosse não teriam existido cientistas ou escritores, saídos do lodo social. E olha que estou falando de séculos 15,16. Nós nunca vimos realmente o que é esse lodo. Ficamos falando de favelas que são um primor de organização e limpeza quando comparadas aos palácios de então. Muito menos teriam existido genocidas saídos da aristocracia.
Ninguém realmente acha que na idade média os pais se preocupavam em incentivar os filhos. Era mais fácil comê-los hehe!
Bem, me perdoem. Me empolguei um pouco. Respeito a opinião de vocês embora não concorde.

Beijos

Arlindo

Paula disse...

Tinha a impressão que vc discordaria... hehe

As coisas não são assim tão simples. O fator aristocracia, por exemplo, não envolve todas as variáveis que condicionam um indivíduo, apesar de ser um deles. Não se trata apenas de genótipo e "input" infantil, mas de todas as experiências que vc teve em toda a sua vida.

Mas, considerando que o ser humano possa efetivamente ser livre, no sentido que vc colocou, eu te pergunto: baseando-se em quê fazemos as escolhas? Como é possível desvencilhar-se de sí mesmo no momento desta escolha?

Vc é fruto de suas escolhas, mas as suas escolhas foram fruto de quê?

Não vejo outro caminho a não ser esta prisão em nós mesmos...

Beijos!

Anónimo disse...

Com relação às escolhas, a tentativa de dizer que não nos baseamos no que somos para defini-las é tentar impor um modo positivista de definir a base de nossas escolhas. Acredito que somos, sim, condicionados pelos fatores da humanização que decorre durante nossa infância e pela nossa carga genética.
Nossa evolução das cavernas para os dias de hoje, como cita Arlindo, foi meramente convenção social e evolução tecnológica, acredito que socialmente continuamos, “arrastando mulheres pelos cabelos até nossa caverna”, mas hoje os métodos são diferentes, não que muita coisa tenha mudado, pois os interesses básicos são os mesmos, a sobrevivência. Só nos realizamos de formas mais pomposas. A dita ética e os costumes adquiridos durante os milhares de anos só nos aprisionam mais e mais, pois somos obrigados a concordar com uma linha de conduta para sobreviver em sociedade.
Com a tecnologia, não foi diferente, pois não nos garantiu liberdade das escolhas, pelo contrario, só nos aprisionou a novos objetos de satisfação dos requisitos básicos de sobrevivência.

Outro fato que me leva a crer que nos baseamos em nós, para realizar escolhas, e que o que nos fundamenta é genético e adquirido na infância, vem do exemplo de uma nação de 12 milhões de pessoas, ter 25% dos ganhadores do Prêmio Nobel¹, sendo os judeus uma nação, que é culturalmente condicionada à educação, pois, na maioria das vezes os casamentos são entre judeus, (o que no meu mínimo conhecimento de genética) resultaria em uma manutenção de alguma característica genética que os leva a ser mais inteligentes do que os demais, além do que, estes casamentos, garantem a manutenção da cultura judaica, como é dita na entrevista da folha de São Paulo, citada acima,a cultura, é para alguns judeus, a responsável pela superioridade intelectual deste povo.
Sendo assim, acredito que nossas escolhas e o que somos sempre estão condicionados ao nosso passado e aos ensinamentos de nossos pais, também a vivência na infância. Somos como um trem que é condicionado a cursar os trilhos pré estabelecidos, podemos mudar de rota e chegar a lugares antes não imaginados no meio do percurso, mas nunca passaremos a andar em calçadas ou navegar em rios, pois estamos condicionados a andar em trilhos.

¹http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u342911.shtml

Paula disse...

Anônimo,

Concordo contigo em essência, e gostei bastante da sua metáfora do trem.

Mas quando vc diz que "podemos mudar de rota e chegar a lugares antes não imaginados no meio do percurso", me vem uma dúvida: como vc considera que esta mudança de rota pode ser feita?

Anónimo disse...

Vai a teu orkut porque te enviei uma cantada porque não consegui escrever mensagem ou recado. O Rogério do Orkut disse-me que eras português. Diz-me em que cidade de Portugal vives.
Obrigada