Acordo e me vejo preso nas correntes da sobrevivencia que unem-me à este pedaço de madeira milagroso, sou levado pela corrente marítima. Ainda bem que estou vivo e que a tempestade já passou.
Nesse momento começo a pensar, mas imediatamente paro e questiono o porquê de questionar. Filosofar sobre o mundo não tem utilidade prática, não vai mudar em nada a minha condição atual, mas faze-lo é prazeroso e isso ja é suficiente.
Contemplo minha ignorância perante este espelho celeste, enquanto o espelho contempla a dele perante o que este espelha. Ambos insignificantes e indeferentes para o todo.
No meio do horizonte infinito, vejo uma terra de cores claras. Antes ao meu redor só havia o azul, parecia que este era infinito. Era só impressão.
A sensação de prazer que eu tenho ao perceber uma chance de sobrevivencia e ao receber as ondas de luz dessa terra, me fazem perceber que o infinito era uma ilusão que o cíclico nos traz, entendo que o espaço deve ser cíclico também, se fechar nele mesmo, o infinito é um absurdo.
Junto minhas forças e remo em direção à praia, a correnteza me ajuda e não demoro muito para chegar.
A praia é praticamente deserta, com excessão de alguns pequenos arbustos. Nesse momento vejo dois horizontes um azul e um bege.
Morto de fome, procuro algo para comer, vejo um pequeno roedor e consigo pega-lo.
Faço uma fogueira, asso o mais primitivos dos mamiferos, janto o meu parente e me satisfaço. Deito nas areias brancas e durmo.
No dia seguinte acordo cansado e fraco ainda, sem saber o que fazer, que rumo tomar.
Não sei o que me leva, desconheco o porque, mas sei que entro no deserto solitário de areias companheiras...
7 comentários:
Oi Caio!
Como sempre vc me obriga a realizar viagens, algumas vezes doloridas, mas sempre fantásticas, ao meu eu mais escondido.
Não sei se consigo apreender realmente o âmago de seu conto, mas como já te disse uma vez, a obra deixa de ser do autor assim que ela é publicada e passa a ser nossa,dos leitores,na medida que a sua compreensão depende da vivencia e experiência de seus leitores.
Senti assim:
O primeiro parágrafo .."acordo e me vejo nas correntes da sobrevivência"..resume todo sentido e sentimento dos parágrafos que se seguem.
Acordar, nascer.Sobreviver apesar de.Sobreviver apesar do que a vida , de vez em sempre, nos oferece, nos dá.Sobreviver apesar de não possuirmos efetivamente as rédeas de nosso destino.
Para mim, esse pedaço milagroso de madeira, no qual se apóia e a filosofia são sinônimos.Não resolvem absolutamente nossa luta pela sobrevivência,,mas a torna mais agradável, mais prazeirosa,menos dura e pesada.
Talvez um consolo diante da certeza de nossa insignificância , assim como do sentido de estar e ser.
Terra de cores claras, nossa esperança,porto seguro(?), que de uma maneira ou de outra, garante a sobrevivência e é também nossa mãe primeira, já que muito possivelmente dela viemos todos.
Senti a tentativa de matar a fome e para tal, sacrificar um sonho(?), um amor(?) um desejo(?)...
É mais ao menos quando como nos dedicamos ao prazer dos sentidos e exaustos adormecemos,mas é apenas um lenitivo,quando acordamos tudo está lá,a nossa espera.
Nossas angústias, nossas certezas e incertezas,amores e desamores, alegrias e dores..e então nos sentimos perdidos , sem rumo,a nossa fome nunca é saciada, ela é muito profunda e exige que sejamos extraordinariamente fortes e assim possamos tirar desse pequeno e perfeito ciclo, que é a vida, tudo de bom e extraordinário que consigamos.
Por que...bem porque um dia desses, sem data e sem hora marcada,retornaremos as areias
claras, retornaremos finalmente para nossa casa, no solitário deserto de nossa origem.
Se estou falando asneiras, me perdoe, mas foi isso que seu texto fez comigo.
Continue produzindo,Caio, apenas uma "alma"bela pode "parir"coisas tão belas e profundas.
Parabéns, mais uma vez.
Maria Regina,
Com certeza o texto deixa de ser do autor quando ele publica.
A sua interpretação só aumenta a profundidade do meu texto.
Fico muito feliz quando vejo seus comentarios, pois percebo que voce é capaz de entrar na historia e se imaginar na situação.
E esse é o objetivo de qualquer obra, fazer com que o leitor entre na historia e sinta as emoções.
Quando vejo os seus comentarios, percebo que você consegue fazer isso ao ler meu texto, pois me parece que nao é qualquer um, já pensei em deixar o texto mais facil, mas aí perderia o seu significado.
Muito Obrigado
Caio
Caio,
Só consigo ler assim; a não ser que seja um texto científico.Gosto de colocar o que sinto quando me deixo levar por suas palavras,é muito bom viajar assim por meu caledoscópio de sentimentos.Talvez eu esteja sendo muito emocional, mas cada um tem sua maneira de ser e de ler o mundo.Neste texto e no anterior, as areias do deserto, me senti como se vc houvesse me pego pelas mãos e me conduzido a uma pequena, mas intensa ,porta de seus pensamentos.
É assim que aprendemos a amar nossos escritores, compositores e outros "ores"mais.( rsrs)Outros autores que leio, já conheço mais ou menos, já sei o que tinham em mente e o que pretendiam transmitir e assim fica muito mais fácil interpretá-los.Mas vc ainda é um mistério e isso é muito bom.Conseguimos nos projetar mais.
E por favor, não tente mudar sua maneira de escrever ou torná-la aparentemente mais acessível.Vc acabaria por alterar o conteúdo de seus textos e isso seria imperdoável pois se revelaria uma violência, e não há no mundo ninguém ou nada que justifique isso.Já temos que nos moldar demais para conseguirmos sobreviver neste mundão.Essas palavras são suas como são seus os pensamentos/sentimentos que nelas coloca.
E vc está se superando...vc consegue fazer uma velha senhora se emocionar e pensa em mudar alguma coisa?( rsrsrs)
Abraço
Desculpe...troquei nome de seu texto anterior..O presente do Deserto...Foi mal, desculpe-me sim?
Maria Regina,
Mais um vez, Muito obrigado!
Eu nem tinha reparado no erro, e nao vou desculpar, porque nao teve problema nenhum. :)
Abraços
Acho que dps de tudo que foi dito não tem mais nada pra comentar! Assino embaixo!=)
Adorei o texto! Parabéns! ^^
Caracas Caio!
Muito maneiro mesmo seu texto.A vovó Maria recomendou o blog , não botei muita fé , mas resolvi dá uma curiada.Legal mesmo mano.Mas depois do que a Vó Maria falou nada mais a comentar...arrasou né?
Gostei pra caramba meu..
Valeu, tá maneiro mesmo..
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