sábado, 19 de julho de 2008

Instintos Monogâmicos?


Tradicionalmente, considera-se que a infidelidade seja uma característica masculina, e que as mulheres tendem à monogamia. Há, ainda, quem coloque que as mulheres "adúlteras" contrariam a sua própria natureza.

Existem justificativas de cunho biológico para essa afirmação primordialmente sexista:

Os homens podem fecundar várias mulheres ao mesmo tempo. As mulheres dispendem muito mais energia para a reprodução, já que precisam desenvolver a gravidez durante 9 meses, amamentar a criança e não têm como se isentar da responsabilidade pela criação, se quiserem garantir a sobrevivência da prole.

Já o homem pode se responsabilizar pela criação de filhos de mulheres diferentes. Isso é interessante biologicamente, porque, ao terem várias mulheres, os homens geram crianças com maior diversidade genética, otimizando as chances de seus genes serem fixados ao ambiente.

Enquanto isso, a mulher procura o parceiro ideal, em função do gasto energético. Ela seleciona o macho com as características que considera mais adequadas, e investe na possibilidade de que este parceiro será capaz de lhe dar uma prole com capacidade adaptativa.

Entretanto, essa justificativa é unilateral.

Por mais que a mulher deseje segurança para esta prole, também deseja variabilidade. A diversidade genética é importante para a sobrevivência da espécie como um todo, não apenas de um dos sexos. É interessante, também para a fêmea, que seus filhos tenham constituições genéticas as mais diferentes possíveis. Então, a mulher deseja constância e variabilidade.

Conclusão? Por mais que a mulher tenha tendências à monogamia, também esta está "predisposta" ao adultério. Ao mesmo tempo que a fêmea seleciona os machos com as características que ela considera capazes de prover a maior adaptação ao meio possível, é interessante que a prole tenha genes variáveis entre sí.

Ora, a "intenção" contida na reprodução é perpetuar seus próprios genes. Se toda a prole for homogênea, apesar de suficientemente adaptada ao meio, ela pode não resistir à qualquer alteração ambiental. Com a variabilidade, a fêmea procura garantias de que, mesmo que o ambiente mude, ao menos parte de sua prole terá chances de sobrevivência, conseguindo, assim, fixar seus próprios genes na população.

É claro que o gasto energético feminino para a reprodução é maior, e portanto, elas são mais seletivas. Mas o fato de serem seletivas não inclui necessariamente a idéia de um macho apenas ser selecionado, mas os machos que ela considera interessantes para contribuírem para a tarefa.

Historicamente, podemos perceber que isto é verdade. A instituição da monogamia, e dos valores como virgindade, foi essencialmente masculina, com o objetivo de assegurar-se da paternidade dos filhos. Se a fidelidade feminina fosse algo inerente, estas "regras" não seriam necessárias.

A conclusão da idéia é que a monogamia estabelecida não é natural, do ponto de vista biológico. Além disso, do mesmo modo que a fidelidade é um "sacrifício" aos desejos inerentes ao homem, o mesmo ocorre com a mulher.

O ciúmes, colocado como uma possível prova de nossa natureza monogâmica, tem um viés cultural e instintivo, já que a própria posse os tem. O sentimento de posse tem um valor adaptativo, porque significa a apropriação de um território necessário para a sobrevivência. O território abrange o sustento (com tudo o que se relaciona a isso), o espaço e as opções escolhidas para a procriação. Se o território é invadido, estamos inseguros; nossa sobrevivência ou perpetuação gênica estão ameaçados. O invasor implica em dispender energia na concorrência, e pode significar a perda do território. A perda deste significa que teremos que buscar em outros lugares os meios necessários, entrando em competição. Ou seja, dispendendo energia e com o risco de não sermos bem sucedidos. O ciúmes é o sentimento contrário à invasão deste território, sentimento necessário para a preservação deste.

8 comentários:

Anónimo disse...

Acho que já ouvi isso antes! hehe ;)

A monogamia dos seres humanos mtas vezes é justificada por meio da comparação com outros animais que teoricamente são monogâmicos, como o cisne e o beija-flor. Mas li a respeito de uma pesquisa (não lembro o nome dos pesquisadores...péssima citação! kkk) que mostrava que na verdade mtos dos animais que sempre foram considerados monogâmicos não o são, incluindo o ser humano.
É possível que exista a monogamia dentro de algum grupo, mas se o objetivo central de todo ser vivo é perpetuar a espécie, a monogamia não faz mto sentido.

Paula Moiana da Costa disse...

É, Rapha, mas normalmente a monogamia é colocada só sob o ponto de vista masculino. O ser humano, por comparação, ou os homens, pela lógica. E aí gera fundamentação sexista.
Tem um outro ponto, também, nessa história aí... me parece que confunde-se muito a monogamia com parceiros constantes. Como a mulher não tem um período de cio específico, em que só se copula neste período, é interessante a existência de um parceiro constante, porque, com o sexo casual, a chance de "acertar" no período fértil é menor. Já ví argumentos neste sentido, em um livro de evolução humana Do Dobzansky, para justificar a monogamia. Mas isso só significa que há parceiros constantes. Pode ser 1, 2, 10, 1000, e ela pode alternar com sexo casual, não?
Beijos!

Anónimo disse...

Concordo TOTALMENTE.
Analise também a grande mudança de comportamento sexual feminino após o advento da pilula.Os riscos de uma gravidez do parceiro "errado"diminuiu considerávelmente, trazendo para a mulher uma maior chance de escolha para a geração da prole e liberdade de não ser tão monogamica assim.
Se vc considerar que os "riscos"da perpetuação da especie é muito maior para a mulher era bem melhor que ela fosse monogamica, certo?
Acredito que realmente a mulher e o homem sejam absolutamente iguais nesse sentido e que a variabilidade de parceiros traria uma maior change para a perpetuação da especie.

Anónimo disse...

Que coisa horr�vel!!!! Duas ladies advogando 1000 parceiros masculinos mais sexo casual? Dariam duas boas sultoas (existe isso?)Daqui a pouco v�o chamar monogamia de monotonia.
Interessante que muitos argumentos s�o defendidos usando a compara�o com animais. Como se o ser humano (n�o vou dizer homem sen�o apanho)fosse uma animal comum. A sofistica�o da organiza�o social, a popula�o imcompar�vel,o desenvolvimento intelectual,etc..,etc..., fazem uma diferen�a brutal. T�o grande que penso ser despropositada essa compara�o, embora biologicamente possa ser justificada. O contexto social n�o interfere e altera os princ�pios biol�gicos? E se considerar a solid�o que � uma manifesta�o de cunho social? Um homem que manifeste dedica�o extremada � prole seria ent�o uma anomalia? Esse argumento me recorda o dos homosexuais que proclamam a exist�ncia de comportamento semelhante nos animais e com isso advogam a condena�o da homofobia e querem tornar o homosexualismo obrigat�rio. hahahaha

Anónimo disse...

é claro que o contexto social interfere, por isso que o ser humano é mongâmico, em geral!

Paula Moiana da Costa disse...

Então, "anônimo", a idéia do texto é exatamente trazer à tona o contexto social da monogamia. E este contexto é bem claro (eu e o Caio fizemos um levantamento e estamos escrevendo sobre isso). Não quer dizer que somos, incluindo a Raphaela, contra a monogamia.
Mas há que se lembrar que os humanos são animais. E que, antes da idéia de posse, da associação do sexo com a reprodução e da igreja, a poligamia rolava solta. Leia "A origem da família, da propriedade privada e do estado", de Engels, que dá uma boa visão disso.
Isso também não quer dizer que seja uma anomalia uma dedicação grande à prole, o sentimento de solidão, etc. Como vc mesmo disse, somos animais sociais. O que quer dizer é que não é uma anomalia aqueles que "pulam a cerca". A verdade é que a sociedade humana é cheia de paradoxos que me parecem insolúveis. Este é um deles.E nada no comportamento humano, salvo raríssimas excessões, é uma anomalia, mesmo que os valores morais advoguem isso. E talvez compreender as origens de tudo, o que nos ajuda a perceber que, só por contrariar estas regras, não somos uma anomalia, seja mais fácil lidar com os paradoxos de cada um.

Caio Mariani disse...

Anonimo,

Só para complementar o que a Paula colocou, o texto não advoga a infidelidade, assim como a violencia (agressão) é natural ao animal ser humano, não é uma atitude interressante para o social.

Abraços,

Caio

Paula disse...

http://cienciahoje.uol.com.br/contr
olPanel/materia/view/3813

interessante!