quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Nascimento da Monogamia Feminina


A monogamia não possui justificativas biológicas consistentes para a sua existência. Onde teria se originado, então, esta prática? Todos os seres vivos possuem características não necessariamente restritas a seus genes. O fenótipo é a interação do genótipo com o ambiente. O ambiente certamente inclui os costumes sociais. E diversas espécies são sociais. A nossa não se exclui.

As origens de nosso comportamento social estão muito interligadas com a história da civilização humana. Nas comunidades primitivas, existiam os chamados “casamentos de grupo”, onde todas as mulheres pertenciam a todos os homens, e vice-versa, dentro de um grupo restrito. Estes povos ignoravam o mecanismo da procriação. Acreditavam que esta era uma função inerente à mulher, que seria capaz de gerar a prole sem necessidade de uma intervenção exterior. A religião praticada por estes povos da antiguidade denomina-se ctonismo (do grego cton – terra), onde havia o culto da terra fecunda. Estas sociedades são consideradas matriarcais pela grande importância dada à capacidade feminina de gerar.

Neste período, os bens, que em sua maior parte eram compartilhados pelo grupo, ficavam com a sua mãe e seus parentes, e não com os seus filhos, pois estes pertenciam à mãe. O direito dos filhos era totalmente materno.

A fêmea humana passou a perder seu “prestígio” com a descoberta da necessidade de fecundação masculina para a reprodução. Isto ocorreu paralelamente ao desenvolvimento da agricultura e do pastoreio, seguido da escravidão. Portanto, se deu em um momento que a idéia de posse se estabelecia. O homem, sabendo de sua condição de procriador, passa a considerar a mulher como sua propriedade, já que as posses deveriam ser repassadas para seus filhos. O desmoronamento do direito materno foi a grande derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo, estabelecendo-se uma sociedade poligâmica patriarcal.


No estabelecimento desta nova sociedade, as leis e os valores religiosos são então utilizados:

A primeira vez em que este padrão de comportamento sexual foi registrado na civilização ocidental em códigos legais foi entre 1800 e 1100 a. C., em cidades da antiga Mesopotâmia (vale do Rio Tigre e do Eufrates). As partes desses códigos que se referiam à posição legal e aos direitos e deveres das mulheres diziam que elas tinham que manter sua virtude, da mesma maneira como pensavam os outros povos agrários. Foi a primeira evidência escrita da subjugação da mulher nas sociedades agrícolas da antiga Mesopotâmia, na qual as mulheres eram consideradas bens e propriedades. Esta inferioridade das mulheres com relação aos homens tem relação com o advento do arado na produção de alimentos. Antes, as pessoas utilizavam a enxada e as mulheres realizavam a maior parte do trabalho no campo, mas com o surgimento do arado, em torno de 3000 a.C., que necessitava de uma força muito maior para ser usado, os homens passaram a ficar com a maior parte das tarefas agrícolas. Com a invenção do arado as mulheres perderam seu antigo papel de coletoras e provedoras de alimentos, passando a ser inferiores aos homens.

Nos valores morais religiosos, há relatos de que, entre 516 a.C. e a destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C., os costumes sexuais judaicos passaram a ser cada vez mais identificados com as leis de Deus. Até então, no judaísmo, poucas práticas sexuais eram consideradas imorais. Aos homens, ao contrário das mulheres, era permitido livre acesso às prostitutas, concubinas, viúvas, criadas domésticas, etc.


No Oriente Médio, na época de Maomé, e até hoje, dentro do islamismo, a mulher só podia ter um marido, ao passo que os homens podiam ter até quatro esposas. O marido também tem o direito de punir fisicamente a esposa se ela for desobediente. "Quanto àquelas de quem temes desobediência, deves admoestá-las, enviá-las a uma cama separada e bater nelas", diz a sura 4.

Nas religiões judaicas, com o advento do Cristianismo, a virgindade passou a ser mais exaltada, a poligamia abolida e as relações sexuais permitidas apenas para a procriação. A castidade passa a ser essencial para ambos os sexos e o casamento é investido de significado sacramental e simbólico A monogamia era a única forma aceitável de casamento e o Novo Testamento menosprezava o concubinato. Isto está associado ao fato de que, nos séculos posteriores a Jesus, alguns líderes cristãos tornaram-se hostis ao sexo. O celibato, porém, só foi oficialmente imposto ao clero cristão no século XI e a abstinência sexual foi se vinculando cada vez mais a Deus e o adultério ao pecado, tanto para homens como para mulheres.



Referências:


ARMAND, E. Os crimes passionais e o tartufismo sexual. Novos Tempos, n. 1, 1998.

ENGELS, F. Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, A.. P. imprenta: Rio de Janeiro, 1964.

FISHER, H. E. Anatomia do Amor: a história natural da monogamia, do adultério e do divórcio. Rio de Janeiro: Eureka, 1995.

GAARDER, J. O livro das religiões. São Paulo:Companhia das Letras, 2000.

GIDDENS, A. A Transformação da Intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Editora Unesp, 1993.


3 comentários:

Unknown disse...

Lembro-me muito bem que já fui contrariado em uma discussão utilizando estes mesmos argumentos, mas tudo bem.
Se me permite acrescentarei umas poucas idéias a este texto, idéias que se referem ao casamento para o povo judaico.
Por ser um povo em constantes lutas, sempre precisando auto afirmar sua predileção divina, o casamento monogâmico, as relações heterossexuais e o casamento entre integrantes da mesma “nação” foi necessário para a formação de uma exercito forte, visto que estar eram as condições para a reprodução de indivíduos sadios.

Paula disse...

Já foi contrariado por mim? Não, né? rs
Essa idéia que vc colocou foi a que o Caio tentou trazer à tona no nascimento da monogamia masculina. Isso porque a monogamia feminina já tinha indícios anteriores.
Mas devia ter falado contigo antes de fazermos os textos, sofremos muito sem um historiador competente por aqui. ;-)

Unknown disse...

Pois é Paula, lembra que falávamos sobre a origem do casamento na sua casa com suas irmãs?....
Ali no comentário, quando eu estava falando, me referia ao casamento, de forma geral. Não apenas de um ou outro. Inclusive era esta a nossa proposta inicial que fecho o tempo naquela noite, origem do casamento, ou era por que casar, não lembro bem.